quinta-feira, 20 de maio de 2010





















Passado, Presente, Futuro



Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:


Mil camadas de pó disfarçam, véus,


Estes quarenta rostos desiguais.


Tão marcados de tempo e macaréus.






Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:


Rã fugida do charco, que saltou,


E no salto que deu, quanto podia,


O ar dum outro mundo a rebentou.






Falta ver, se é que falta, o que serei:


Um rosto recomposto antes do fim,


Um canto de batráquio, mesmo rouco,


Uma vida que corra assim-assim.






José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

Nenhum comentário: