Olho  de cima da ribanceira a corrente que mal se move, a água quase  estagnada, e absurdamente imagino que tudo voltaria a ser o que foi se  nela pudesse voltar a mergulhar a minha nudez da infância, se pudesse  retomar nas mãos que tenho hoje a longa e húmida vara ou os sonoros  remos de antanho, impelir, sobre a lisa pele da água, o barco rústico  que conduziu até às fronteiras do sonho um certo ser que flui e deixei  encalhado algures no tempo.
SARAMAGO. José, 1922 - 2010
As pequenas memórias
 

 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário